sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O Menino do Mangue e os Caranguejos Fugitivos - Parte 6


Houve brindes e muitos parabéns. Enquanto as pessoas iam se acomodando novamente, Maiag avisou a dona da casa que estavam indo lá pra parte de trás do quintal. A mulher disse que eles não tinham jeito mesmo, mas deu um sorriso em seguida e falou: _Tudo bem... fica fria. O casal, Acolum e a menina que também não comeu caranguejo, foram lá para trás “matar uma sobremesa”, como metaforizou Gaiom. Logo chegou mais um casal e outras duas garotas. Umas duas rodadas depois chegou mais um rapaz e em seguida outro. Como o cérebro de todos já estavam debilitados pelo excesso de bebida, não demorou para que as conversas ficassem muito alucinadas.Teorias espirituais, óvnis, religião, medos, piadas, filosofia, cinema, pintura, quadrinhos e muito, muito mais, tudo ao mesmo tempo, em uma conversa totalmente sem nexo para quem escutasse do lado de fora. Lá pelo meio da sessão, alguém contou uma lenda urbana. Terminada a primeira história, a menina que não comeu caranguejo perguntou se alguém sabia sobre a lenda do Caranguejo Justiceiro. Um dos rapazes se precipitou, foi até o centro da roda e, com muita encenação, falou em tom de suspense: _Um cara vestido com uma roupa vermelha e bem colada no corpo... que resgata os caranguejos perdidos e os leva de volta para o mangue. Ele tem uma máscara e se pendura entre as casas e postes com um fino cabo de aço... pula por cima dos telhados... Gaiom deu uma gargalhada e disse que esta era ótima: _Um super-herói parnanguara? Não dá pra acreditar... de onde vocês tiraram isso? _Nunca havia ouvido nada sobre este cara com roupa vermelha e colante... nem sabia que o nome dele era Caranguejo Justiceiro – disse a moça abraçada ao seu namorado - mas desde criança, escutei minha vó contar sobre os caranguejos que conseguem escapar do saco e acabam perdidos aí pela cidade...ela sempre disse que havia um menino que resgatava estes caranguejos e os levava de volta para o mangue. Maiag confirmou a história da moça e ainda deu a origem do tal menino: _Bem, acho que todo mundo concorda que estes caranguejos perdidos não tem muita chance de retornar ao mangue. Segundo meus avós, há muito tempo, quando tudo isso aqui era floresta, um deles escapou enquanto era transportado para a casa de um homem muito rico que morava próximo da Estação Ferroviária. Milagrosamente ele conseguiu voltar... quando estava chegando no mangue, encontrou um pajé de uma tribo nômade que passava pelas redondezas. O homem velho e enrugado se abaixou, pegou o caranguejo, trouxe até próximo do rosto e falou: _Você conseguiu voltar meu amigo... você é mais inteligente que muitas pessoas deste mundo... amanhã você acordará menino e terá como missão mostrar o caminho para os outros que estão perdidos. Esse menino continuou a morar no mangue e passou a resgatar os caranguejos fugitivos... até hoje.Um dos garotos que chegaram por último na roda, deu uma risada muito gostosa e disse que apesar de ser uma mentira sem tamanho, a lenda até que era boa. Depois perguntou: _Mas como um garoto que morava no mangue acabou se transformando em um cara vestido com uma roupas vermelha e colantes e que se pendura por aí? Quem faz as roupas dele? Os caranguejos? Todos riram muito, menos Acolum e a menina que também não comeu caranguejo.A sessão já estava terminando e todos ainda riam do Caranguejo Justiceiro. Acolum acendeu um cigarro. Ele ficou muito estranho e agitado. Estava visivelmente nervoso, alterado mesmo. Deu uma tragada, duas, coçou a cabeça, três, quatro, esfregou a mão no pescoço como se estivesse engasgado, aproximou-se do casal de amigos e disse em tom de confissão: _Foi isso... foi isso que eu vi lá no carro... naquela hora que gritei pra você ter cuidado... lembra Gaiom? Foi isso... na hora eu pensei que tava ficando louco... mas foi realmente isso... agora eu sei. Quando olhei tinha um caranguejo pendurado, sendo puxado para cima por um cabo, um fio, elástico, sei lá... você parou e eu olhei para trás, mas as luzes apagaram...

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