terça-feira, 9 de setembro de 2008

O Menino do Mangue e os Caranguejos Fugitivos - Parte 3


Não dá pra generalizar e simplesmente proibir... tem toda uma questão sócio-econômica-cultural por trás do consumo do caranguejo...A luz do fim de tarde entrou por uma abertura na boca do saco, e nosso caranguejo não pensou duas vezes. Foi o mais rápido de todos e conseguiu escapar daquela prisão quente e apertada. Outros dois vieram logo em seguida e mais outro um pouco depois. Eles caíram no piso gelado e vermelho da área da churrasqueira e logo o nosso amigo caranguejo achou o caminho do gramado. Enquanto se escondia atrás de uma moita, um menino saiu da cozinha e berrou avisando da bagunça: _Pai!!! Os caranguejo estão fugindo!!! O Homem veio correndo e capturou os fujões, menos o caranguejo atrás da moita. Ele permaneceu imóvel por horas, até que tudo estivesse seguro.Um longo tempo depois, a limpeza acabou e os donos da casa foram dormir. As árvores escureciam o quintal. O silêncio imperava, o caranguejo se sentiu confiante e saiu de seu esconderijo. Analisou o território por alguns segundos e correu em direção à rua. No telhado do sobrado à direita, um homem de roupa vermelha e colante, com um shorts que variava entre o azul e o roxo, observava atentamente os passos do caranguejo fugitivo. Ele usava uma máscara que deixava sua boca à vista. Após alguns metros de corrida, a sombra escondeu o caranguejo em fuga. O observador do telhado olhou para a pequena tela do radar preso a seu pulso. Um ponto vermelho piscava mostrando a posição exata do caranguejo.

Parados esperando o sinaleiro abrir, os amigos continuavam ouvindo indie rock e falando sobre os caranguejos. _Eu também acho que não adianta simplesmente proibir – disse Gaiom – já faz parte da cultura... na verdade, está enraizado na cultura. Praticamente todo mundo come. Maiag ofereceu a latinha para Acolum apagar o cigarro e concordou com o marido: _É... não é bem assim... proibir a captura e pronto, ninguém mais vai comer. Também não adianta proibir e continuarem a destruir os mangues. É muito complexo e complicado. Tem que pensar nas famílias que dependem deste consumo pra ganharem uma grana extra e diminuírem um pouco a miséria em que vivem... tem o turismo... a tradição... os donos de restaurantes e botecos. Acolum lanchou e eles saíram rumo à caranguejada na casa dos amigos. Uns dez minutos depois o rapaz cruzou os dedos das mãos atrás da nuca e se espreguiçou no banco traseiro. Abriu a boca num bocejo prolongado. Usando a xepa de Maiag, acendeu um cigarro e disse que realmente o assunto caranguejo é muito interessante e que facilmente daria uma tese gigantesca. –Eu só não concordo mesmo é com esse negócio de cozinhar o bicho vivo. Não tem nada haver!!! – falou Acolum. Os amigos riram muito e concordaram com o visitante. Gaiom e Maiag estavam ainda distraídos e rindo da descrição que o amigo fazia dos bichinhos tentando escapar da panela, quando Acolum gritou: _Cuidado!!! A noite estava mal iluminada e lua quase invisível. Vestido com sua roupa colante e vermelha, um shorts roxo azulado, e com a metade superior do rosto escondida pela máscara, um homem pulava silencioso de telhado em telhado. Um bip em seu radar de pulso o fez parar sobre a viga exposta de uma casa muito antiga, praticamente colonial, que há muito estava abandonada e virando ruína. Ele analisou o mapa mostrado na pequena tela do radar. Um ponto vermelho piscava mostrando um local. O homem se levantou, pensou um pouco, então continuou correndo silenciosamente de um telhado para o outro.

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