domingo, 7 de setembro de 2008

O Menino do Mangue e os Caranguejos Fugitivos - Parte 1

[Leia: Parte 2 | Parte 3 | Parte 4]
Por Alexandre Santana

Quando o ônibus fez sua primeira parada em Paranaguá, Acolum saiu da hipnose do seu mp3. Limpou os olhos, abriu a cortina encardida e ficou verificando o movimento noturno do lado de fora. Na praça à beira do asfalto, sob uma grande árvore, havia uma galera reunida em círculo. Enquanto o motorista esperava o homem idoso, sua esposa de meia idade e o menino descerem sem pressa alguma, Acolum observou a galera em roda na praça. Um deles fumou algo e passou para o seguinte da roda. Este então deu uma tragada e também passou para o próximo, que fez o mesmo. As moças sentadas no banco da frente também viram a rodinha da fumaça. _Olha só os piás... uns “merdinha” desses fumando maconha... eu vejo coisa mesmo – disse uma delas. A outra respondeu avisando que a coisa em Paranaguá não estava nada boa. _Escureceu... as pracinhas já se enchem de drogados... a maioria são tudo crakento... a pedra tá dominando a galera... gente pobre... rica... mulher... homem... jovem... velho. Tem viciado de tudo que é tipo em tudo que é lugar. Eles fedem.

Como combinado, Gaiom e Maiag estavam esperando Acolum na rodoviária. Quando eles se encontraram, a bela Maiag disse sorrindo: _Bem vindo garoto da cidade grande! Acolum soltou uma gargalhada e falou a Gaiom que a esposa dele pelo jeito continuava muito engraçada. Depois que todos se abraçaram, entraram no carro e partiram. Gaiom começou a perturbar Acolum porque ele ficou quase um ano sem descer: _Você é foda... prefere ficar lá em cima da serra... lugar gelado. Olhando os mendigos na praça em frente à rodoviária, Acolum argumentou que o ano foi uma correria danada e que os dois também não subiam a 277 fazia um tempão. Em seguida, ele se mostrou preocupado com Paranaguá e comentou sobre como foi sua chegada na cidade: _Poxa... eu vi um monte de mendigo. Umas garotas no ônibus tavam falando que a coisa aqui tá feia, que o crack tá generalizado. Maiag confirmou a triste situação, falou da prostituição, prostituição infantil e contou que até os assaltos estão ficando muito mais violentos.

Erbop acordou cedo. Ele morava num casebre caindo aos pedaços, cheio de frestas entre as madeiras das paredes. Tomou um café ralo que sua velha mãe havia acabado de fazer e comeu um pão amanhecido. _Pode se animar minha mãe... to pré-sentindo... hoje vai dar pra mim encher um saco de caranguejo. A mulher sorriu e disse com sua voz rouca e baixa que era melhor o filho não ficar muito alegre, porque ainda não era época das “andadas” e “os bichu tão tudo entocado”. Ele mostrou o laço para a mãe e falou confiante: _Eles podem tá lá no fundo da toca que eu pego. Subiu em sua bicicleta já sem cor de tão antiga e saiu assoviando por entre os barracos. Ao som de uma trilha sonora formada por clássicos do indie rock, Gaiom, Maiag e Acolum atravessaram o centro da cidade. Durante o caminho, Maiag acendeu um cigarro e perguntou se Acolum estava com fome. _Se você estiver, temos que passar em algum lugar pra você fazer um lanche. Ele respondeu que tava morrendo de fome e perguntou por que ela disse que iam passar em algum lugar para “ele” fazer o lanche: _Vocês não vão comer? O casal deu uma risada de cumplicidade e contou ao visitante que eles iriam a uma caranguejada na casa de uns amigos. _Fala sério – disse Acolum – não acredito! Vocês ainda comem este bicho? Novamente o casal riu, então Gaiom falou:

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