segunda-feira, 20 de abril de 2009

feiúra da anormalidade

É preciso ser muito sem noção para não se preocupar com o que está acontecendo: gerações inteiras indo pelo ralo por não conseguirem se enquadrar no conto de fadas do consumo. Adultos e crianças triturados em pequenas partes feias, por uma propaganda terrorista que critica, ofende e menospreza cada pedacinho do seu corpo, o tempo todo, para em seguida vender soluções rápidas e simples dos seus patrocinadores.
Inventaram um padrão de beleza: o corpo certo. Depois, através de décadas de bombardeamentos contínuos de ondas midiáticas, impuseram esta norma estética e materialista como verdade absoluta, natural, inata do ser humano. Possuir um corpo diferente é motivo de vergonha. Você muda ou se esconde. Não fique mostrando este corpo feio por aí.
Tempo e dinheiro gastos desesperadamente com fantasias normalizantes. O grande problema é que hoje em dia, ser normal significa se sentir uma aberração e crer fielmente na possibilidade de alcançar o modelo de beleza proposto pelos comerciais. Escravidão camuflada com a pintura libertária do hedonismo. Parece mais Anedonia.
Fracos, exaustos, sem grana, sem folga, em conseqüência de uma interrupta “corrida do ouro”, da busca sem fim pelo lendário “Eldorado”, os pobres servos seguem de cabeça baixa, aceitando todas as falcatruas e explorações. Além da incapacidade física de reação, há o entrave mental, afinal, nada mais importa, a não ser ficar dentro dos padrões estéticos da belezura. A qualquer custo. Pode ser até vomitando ou tomando bomba.
Nós temos um potencial. Podemos melhorar este mundinho e acabar com toda a palhaçada que nos tratam. Temos o direito e os meios de nos revoltar, mas estamos cansados demais. Dopados para não lembrar o quanto somos horríveis e anormais, o quanto nosso corpo é feio, esquecemos que na verdade não existe padrão de beleza nenhum. O corpo perfeito não existe. Somos diferentes, com corpos diferentes, e a beleza deveria estar nisso. Não somos clones e não deveríamos desejar nos transformar em cópias baratas uns dos outros produzidas em uma linha de produção.